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quarta-feira, 5 de março de 2014

Entrando mais no assunto: Ciclagem. (Detalhada)

Dá-se o nome de “CICLAGEM”, em aquarismo marinho, ao período de tempo necessário para que, depois de montado o SETUP e devidamente abastecido de ÁGUA com todos os seus parâmetros fisico-químicos ajustados, se estabeleça um nível de colonização bacteriana suficiente para “fechar” o CICLO DO NITROGÊNIO, de extrema importância num aquário marinho pelo potencial tóxico de alguns produtos derivados da degradação de matéria orgânica, principalmente a AMÔNIA e o NITRITO, cuja toxicidade tem relação direta com o pH, sendo bem maior no ambiente alcalino que no ambiente ácido e, num aquário marinho, é justamente um ambiente ALCALINO o que buscamos;

Aquário em ciclagem, com algas marrons nascendo e ampliando as colônias de bactérias. 


Vamos então aos detalhes:

O PERÍODO DE CICLAGEM poderá ser TÃO LONGO QUANTO MAIS DE DOIS MESES, ou TÃO CURTO QUANTO APENAS 04 HORAS. Tudo depende da configuração, da logística e dos materiais empregados na montagem;

Um aquário montado com ÁGUA “viva” natural de boa procedência + AREIA “viva” de mesma procedência que a água, coletada em maré baixa, recolhendo apenas a areia superficial (sem aprofundar mais que oito centímetros no leito de areia) + algumas ROCHAS “vivas” (ATENÇÃO: A legislação atual proíbe essa coleta) também coletadas NO MESMO BIOMA e postas em CIRCULAÇÃO no aquário num PERÍODO INFERIOR A QUATRO HORAS, já estará “ciclado” para espécimes do mesmo ambiente, que poderão ser colocados no display de imediato.

A razão disto, obviamente, é que todas as superfícies externas e internas da areia e das rochas, e mesmo a coluna d'água, já estarão colonizadas por bactérias vivas, oriundas de um mesmo ambiente e já em equilíbrio entre si, fazendo com que o CICLO NO NITROGÊNIO já esteja “fechado” e funcionando, permitindo assim o processamento da matéria orgânica produzida pelo metabolismo dos espécimes que ali se ponha, ou introduzida pelo aquarista ao alimentá-los.

A razão do cuidado na coleta de areia, de não coletá-la abaixo de 8,0 cm da superfície, é que, abaixo de 8,0 cm da superfície, predominam bactérias anaeróbicas, que morrerão ao ser expostas ao oxigênio e apenas contribuirão com matéria orgânica adicional sem nenhum resultado útil, por isso é melhor deixá-las onde estão, para que sigam no seu importante papel ecológico, e recolher apenas as que chegarão vivas e serão úteis ao aquário.

Uma montagem como a descrita acima, ainda que possível e até, em raras vezes, justificada, não é o padrão nem a “panaceia”, nem deve servir de “exemplo” ou “objeto de desejo” para a iniciação de um aquário; O ambiente natural, além das “coisas boas” também tem “pragas” e, como já superficialmente indicado nos escritos acima, uma montagem nesse estilo obviamente representa UM (de único em meio a vários) “ambiente marinho”, e iria muito bem para um ECÓTOPO montado com espécimes da mesma área, mas o mesmo já não se diria para a acomodação de seres oriundos de outros ambientes, ou mesmo de outros aquários, especialmente para os espécimes de ambientes recifais, e não “de praia”.

O normal, e mais indicado, é que, ainda que se tenha acesso à coleta de materiais “vivos” e em boa condição de coleta para a montagem do aquário, se estabeleça um período de QUARENTENA ALARGADA, já que “ciclagem” nessas condições seria um termo inadequado, e durante esse tempo (de no mínimo 60 dias)*, além de observar o provável desenvolvimento de algum organismo ou parasita indesejado, fossem sendo ajustados os parâmetros da água, nos aspectos de salinidade, densidade, “pool” iônico (cálcio, magnésio, carbonatos, estrôncio, ferro, iodo, nitrato, fosfato...), transparência, MOD (matéria orgânica dissolvida) COD (carbono orgânico dissolvido), ORP (oxi-reduction potential), temperatura e etc., de modo a deixá-la o mais próximo possível da configuração ideal de parâmetros para as espécies que decidimos manter no nosso aquário.

Alguns parasitas, como o ICTIO (Cryptocaryon irritans – um protozoário ciliado), fazem o seu ciclo de vida entre a areia (substrato) e o parasitado (peixe) e, portanto, a areia “viva” oriunda de ambiente selvagem, pode servir de transporte aos cistos, com formas “tomonts” que, ao eclodirem, liberam na água as formas “theronts” que são as infectantes. Como as formas “therontes” vivem apenas 48 horas se não encontrarem hospedeiros, e como os cistos de “tomonts” eclodem, em média, de entre 6 a 9 semanas, um prazo de 60 dias é razoável para reduzir a um mínimo uma provável carga parasitária; Outros parasitas, como o OODINIUM (Amyloodinium ocellatum – um “dinoflagelado” heterotrófico), também têm uma fase de “vida livre” na água e então, sendo o OODINIUM uma parasitose quase sempre FATAL, e sendo a água “viva” um provável veículo para a sua introdução no aquário, principalmente se recolhida em AMBIENTES EUTROFIZADOS, essa quarentena inicial também é útil para, além de equilibrar os parâmetros e “quebrar” o ciclo dos parasitas do substrato, dar também oportunidade aos meios de filtração, especialmente a Ultra-violeta, de atuar contra essa “carga indesejável”, reduzindo a chance de vir a introduzir espécimes sensíveis em ambientes contaminados.

Uma CICLAGEM NORMAL, portanto, bem planejada e bem conduzida, ainda é a melhor garantia, para o aquarista iniciante, de que verá o desenvolvimento do seu aquário à luz de bons caminhos já palmilhados, enquanto também exercitará a PACIÊNCIA, virtude essencial de todo aquarista, e “treinará a mão”, observando a evolução de todos os parâmetros e interferindo apenas quando necessário. Entretanto, antes de inciar a “ciclagem”, propriamente dita, é necessário que se concluam e observem alguns outros passos:

Escolhido o local do aquário (preferencialmente em local arejado e fora da incidência direta da luz do Sol), posicionado o móvel (que deverá ser suficientemente dimensionado para suportar o “peso” do sistema que estará sustentando) e montado o SETUP (display com respectivos equipamentos, sump com respectivos equipamentos, caixa de reposição de água doce, Central Elétrica e que tais), vamos para a montagem do “AQUASCAPING” (disposição das rochas do display e do substrato); Esta, ainda que se diga que é, e de fato em parte seja, “ao gosto do aquarista”, tem alguns pormenores e alguns “macetes” que devem ser considerados.

Ainda que classicamente se diga que, a montagem do aquascaping, se inicia pelas rochas, depois se põe a areia e depois a água, o fato é que, muitas vezes, pela própria difração da luz, na água, após terminar a montagem verificamos que “não ficou do nosso gosto”, e lá vamos nós de novo movimentar as rochas, até que a “paisagem” pretendida fique definitivamente ajustada. Assim sendo, poderíamos abrir mão da sequência “clássica” e adotar uma outra, que tem algumas vantagens adicionais, além de ser mais prática: Vamos começar pela ÁGUA, cujo volume devemos conhecer e devemos ir medindo, para sabermos, ao completarmos os níveis necessários, qual é o volume exato dessa água. Essa medida de volume, que será a do “nosso” aquário e que variará muito pouco ao longo da sua vida útil (exceto no caso de se acrescentarem “mais volumes”, que terão que ser “descontados”, tais como animais, rochas e equipamentos à coluna d'água), servirá para cálculo das DOSAGENS e REPOSIÇÕES eventualmente necessárias, então deverá ser conhecida, e “guardada”.

O nível do display é geralmente determinado pela altura da borda do overflow, logo, é por aí começamos. Completado o nível do display, a água começará a transbordar para o sump, através do encanamento do overflow. No sump, já deverá estar determinado um nível que resguarde espaço suficiente, no mínimo, para um “excesso” de cerca de 3 mm de água na coluna do display (acima da linha de nível do overflow e que é determinado pela tensão superficial da água em circulação, correspondendo à altura média da “virada” da água sobre a borda do overflow), mais o conteúdo dos canos de descida e de subida que, em caso de falha de energia, descerão para o sump e, se não houver sido previsto esse “volume para o alagamento”, poderá transbordar, indo a água parar “no meio da sala”. Determinado esse “nível de segurança”, calculando e somando os respectivos volumes desses compartimentos de água, poderemos acrescentar água ao display até que esse nível do sump seja atingido, fazendo então, ali, uma marca.

Marca feita, e observando a subida de água acima desse nível de vez em quando, iremos colocando as rochas “conforme o nosso gosto”, sempre que bem assentadas e um pouco afastadas dos vidros laterais (para permitir posteriormente a limpeza dos vidros e também garantir um espaço de circulação, sem muito empecilho, para a água e para os peixes). Após as rochas bem assentadas, com o auxílio de um cano, ou funil suficientemente longo, vamos delicadamente posicionando o substrato, já bem lavado (quando comprado “seco”), à sua volta, distribuindo-o uniformemente por toda a base do display ou, o que também é usual, estabelecendo um aclive, desde o vidro frontal até o do fundo, o que geralmente produz um efeito visual de “maior profundidade”. Terminada a montagem, retira-se e mede-se o excesso de água do sump (tudo o que estiver acima do nível antes marcado), determinado pelos volumes dos materiais inseridos no display e desconta-se do volume total de água já anteriormente medido, quando definimos o nível. O "resultado" da conta será a LITRAGEM REAL do aquário. Isto feito, ligamos as bombas e... Começou a “ciclagem”!

Nos primeiros um ou dois dias, os equipamentos estarão trabalhando basicamente para eliminar a “TURBIDEZ” da água, decorrente do revolvimento do substrato, mesmo quando bem lavado. A partir mais bem do segundo ou terceiro dia, a água já terá mais transparência e poderemos, se quisermos, ligar as luminárias para ir experimentando. O assunto de ligar, ou não, as luminárias durante a ciclagem, é controverso, já que, alguns preferem não ligá-las e acreditam que, com isso, impedem o “boom” de algas, marrons (diatomáceas) e verdes (ciano?), que geralmente vem nos visitar por ocasião da ciclagem. Outros preferem as luminárias ligadas, pois assim, também acreditam, antecipam o “boom” de algas e, como já vieram mais cedo, mais cedo também irão se retirando. O “resultado prático”, em ambos casos, será o mesmo, mas pelo menos com a “luz acesa” , será mais fácil ir observando.

Se tivermos trabalhado com água, rochas ou areia “vivas”, ou se tivermos adicionado um “PROBIÓTICO” (cepas bacterianas selecionadas, geralmente em laboratório, que servem para “dar partida” ou reforçar o “pool” bacteriano do aquário, visando a “fechar” o ciclo do nitrogênio) ao aquário, já haverá biologia e, portanto, razão para TESTES. Caso contrário, poderemos esperar tranquilamente quinze ou vinte dias, ou até mais, antes de gastar esse dinheiro, já que os testes não são baratos. Por óbvio, se queremos estimular o crescimento de bactérias e a formação de “filmes” bacteriais nas superfícies das rochas e do susbstrato, e principalmente se adicionamos probióticos à coluna d'água em um aquário montado com susbstrato “seco” e “dry rocks”, ligar o SKIMMER, durante a ciclagem, já que este também retira bactérias da água, está contra-indicado. Não é que seja proibido, nem que chegue a impedir que o ciclo acabe se completando, mas é um evidente contra-senso e, portanto, deve ser evitado. Outro equipamento que não é útil nessa fase, e pelo mesmo motivo (exceto em casos como o apontado mais acima, em que se monta todo o display com materiais coletados e “vivos”), é a Ultra-violeta; Também não contribui à colonização bacteriana, já que as está matando.

Na outra vertente, uma vez passados alguns dias de ciclagem, e já com razoável certeza de que boa parte do “pool” bacteriano, originário ou administrado, já aderiu às superfícies e, portanto, está ali representado, é útil ir ligando o skimmer e a ultra-violeta, já que, a essa altura, as bactérias presentes na coluna d'água serão, praticamente, as PELÁGICAS (próprias da coluna d'água, ou que vivem nela) e estas tem pouca importância para o “ciclo do nitrogênio” que estamos implantando. Pelo seu lado, as bactérias das superfícies já estarão se multiplicando exponencialmente e formando os seus “filmes”, pelo que, é importante começar a dosar alimento, no caso “fontes de carbono”, cujo excesso, consumido em parte ou não pelas bactérias pelágicas, o skimmer ajudará a ir retirando.

Como já dito mais acima, quinze ou vinte dias após o início da ciclagem, ou um pouco mais se trabalhamos com material estéril, é a hora de começarem os TESTES. Os mais importantes, nessa fase, por permitirem, de certo modo, “estadiar” a ciclagem, são a AMÔNIA, NITRITO E NITRATO. No inicio da entrada de matéria orgânica no sistema, originária, se já proveniente de biologia prévia, ou administrada, se proveniente das “fontes de carbono” ali dosadas, geralmente há um “PICO DE AMÔNIA”. Este, ao longo de dias começa a decrescer e é substituído por um “PICO DE NITRITO” . Do mesmo modo, este também decresce ao longo do tempo e dá lugar ao “PICO DE NITRATO”. Quando a amônia e nitrito estiverem ZERADOS e o nitrato comece a decrescer, o “ciclo do nitrogênio” estará estabelecido e... O AQUÁRIO ESTARÁ “CICLADO”.

Mas atenção: “CICLADO” NÃO É O MESMO QUE “ESTABILIZADO”; Um aquário, ao final da ciclagem, ainda possuirá um filme bacteriano muito tênue, imaturo, e terá pouca capacidade de resposta aos excessos de matéria orgânica produzidos ou administrados. Esses excessos, num aquário imaturo, ainda que ciclado, poderão determinar níveis de amônia ou nitrito eventualmente elevados e, se alcançados níveis tóxicos, colocar em risco de morte os primeiros animais do aquário, mas isso... Veremos com mais detalhe no próximo post, acerca da introdução de animais no aquário.






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